Livros para entender a ‘cultura do cancelamento’

O cancelamento é um tribunal sem regras da internet ou um justo puxão de orelha? VF indica livros para aprofundar a reflexão sobre o tema

Por Alexandre de Melo

Não há uma vasta bibliografia específica sobre a ‘cultura do cancelamento‘, afinal, é um termo razoavelmente novo. No entanto, alguns livros indicam os caminhos para compreender melhor a origem das novas formas de combate ao preconceito na internet e também como se configuram o discurso de ódio, linchamentos e o cyberbullying, as faces cruéis do cancelamento online.

Confira abaixo uma pequena lista de livros que o curso ‘Vaza, Falsiane!’ indica para estudantes e professores que estão pesquisando sobre o tema.

 

Humilhado – Como a era da internet mudou o julgamento público (2015), de Jon Ronson, Editora Best Seller

O que acontece com quem erra e é ‘setenciado’ na internet? Por três anos, o jornalista Jon Ronson acompanhou diversos casos de cancelamentos e posterior humilhações online, especialmente no Twitter. Uma das histórias relatadas é a do jornalista Jonah Lehrer, popular por fazer divulgação científica, mas que caiu no ostracismo após mentir sobre Bob Dylan.

 

Linchamentos – A Justiça Popular no Brasil (2015) de José de Souza Martins 

O Brasil é um país violento com longo histórico de linchamentos. O sociólogo José de Souza Martins descreve neste livro que as motivações para linchamento de rua vão de estupro de crianças até temores sem razão. O autor analisa que a falta de crença nas instituições responsáveis por cumprir a lei e os consequentes linchamentos são sinais de grave crise social. Os números comprovam a tese: mais de um milhão de pessoas participaram de ações de justiçamento de rua no Brasil nos últimos 60 anos. Imagina só esse potencial de ódio transferido para a internet…

 

Eichmann em Jerusalém – Um relato sobre a banalidade do mal, de Hannah Arendt, Vicking Press

Eichmann em Jerusalém, de Hannah Arendt

Até onde você é capaz de ir para ser aceito no grupo ou para conseguir vantagens? Linchamento virtual? Achar aceitável a morte de outras pessoas por consequência dos seus atos? Neste livro, a filósofa judia Hannah Arendt escreve sobre a captura do nazista Adolf Eichmann, na Argentina, e seu  julgamento.  A descrição de Arendt mostra um funcionário público burocrata que não refletia o perfil de carrasco sanguinário que odiava judeus, personalidade que grande parte das pessoas esperava encontrar. Segundo a autora, Eichmann cumpria ordens, sem ter grandes reflexões sobre o mal que elas causavam.

 

Para educar crianças feministas: um manifesto (2017), de Chimamanda Ngozi Adichie, Companhia das Letras

Antes da internet, preconceitos abertos ou velados tinham vida mais fácil no debate público. Pessoas LGBTQI+, negros e mulheres tinham pouco espaço para debater e reagir  contra os desrespeitos que sofriam na escola, no trabalho, nas artes e nos meios de comunicação. A cultura do cancelamento também é um grito de  manifestação destes grupos que deixaram de normatizar preconceitos de formadores de opinião. Neste caso, a linha que diferencia estar aberto ao diálogo e não aceitar mais discurso de ódio disfarçado de opinião é tênue. Afinal, o cancelado online age por ignorância criminosa ou reproduz ideias de um grupo privilegiado que nunca refletiu sobre o assunto?Neste cenário, como ser propositivo e avançar? A autora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie propõe o caminho da Educação  para que o respeito não se perca e o diálogo seja uma ponte de construção coletiva possível.

 

O que aprendi sendo xingado na internet (2016) de Leonardo Sakamoto, Editora Leya

Leonardo Sakamoto é um dos criadores do ‘Vaza, Falsiane!’ e este livro pode ser considerado um dos trabalhos que deram origem às pesquisas junto de Rodrigo Ratier e Ivan Paganotti para o nascimento do curso. O livro reúne artigos do jornalista publicados no UOL e relatos de sua experiência pessoal com o ódio e as mentiras disseminadas em redes sociais. No entanto, no livro você encontra bom humor e um guia eficiente para manter a internet um ambiente saudável, além de se manter longe de armadilhas que a cultura do cancelamento pode te colocar.

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