1. Fake science: sabotagem no combate à pandemia

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O ano de 2020 parece ter sido um grande buraco negro: fomos todos sugados pelo peso enorme e inevitável da pandemia do novo coronavírus. Nos piores momentos, ficou difícil de ver alguma luz no fim do túnel. Muita gente não pôde sair de casa, e o noticiário parecia também preso em um só tema.

Não demorou para a pandemia inspirar notícias falsas. Esse era o tema que mais atraía a atenção do público, e os propagadores de desinformação não iam perder uma oportunidade de atrair gente confusa, sem saber o que fazer. Nesse momento em que nossa vida parecia mudar, e novos medos e regras surgiam no horizonte, não faltou informação desencontrada.

A pandemia da covid-19 foi terreno fértil para notícias falsas. Confira as novas formas de desinformação e as mobilizações para combatê-las.

Por falar nisso, vamos a um teste rápido? Associe “falso” ou “verdadeiro” aos seguintes conteúdos veiculados sobre as vacinas contra covid-19:

Caramba… foi bem mals
Caramba… foi razoável
Caramba… foi muito bem
Quais das afirmações são “falsas”

Correto!

Errado!

Se você assinalou “falso” para todas as alternativas, acertou! Como vimos nos módulos anteriores, fake news podem atrapalhar processos eleitorais e o debate público sobre temas importantes em nosso futuro. Mas a situação fica ainda mais urgente quando as informações falsas são usadas como base para decisões que afetam a nossa saúde. Nesse caso, o risco pode ser imediato, colocando em xeque nossa vida ou a sobrevivência de quem está perto.
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Estamos presenciando um problema que pode ter ficado mais evidente em 2020, mas não é novidade, nem se restringe à pandemia. Pesquisadores da Universidade Federal Fluminense já alertavam para a proliferação da chamada “fake science”: como as fake news simulam o formato jornalístico para propagar informação sem checagem, a fake science parece usar uma maquiagem de discurso científico, mas propaga informações que vão contra o conhecimento científico consolidado e não tem embasamento em pesquisas verificáveis.

Essa “ciência falsa” inclui desde casos de fraude até formas de negacionismo, como quem questiona mudanças climáticas até absurdos como a ideia de que a terra seria plana.

Movimentos de fake science se aproveitam das conexões digitais para se organizar e estão se expandindo com velocidade. Em outros países, por exemplo, existem vastas redes que tentam diminuir a confiança da população sobre a segurança e a eficácia de vacinas.

Esses grupos se baseiam em estudo que já foi provado como incorreto e foi retirado dos arquivos do periódico que o publicara – algo raro na ciência e que só acontece quando as informações apresentadas não se sustentam mais. O autor desse estudo falso, inclusive, acabou sendo responsabilizado criminalmente pela fraude, e perdeu seu registro médico.

Pode não parecer, mas esse caso ajuda a entender como funciona a ciência. Para um conhecimento ser científico não basta alguém simplesmente apresentar suas conclusões. É necessário que outros especialistas possam replicar os estudos, ou seja, tentar repetir o experimento com o mesmo método e chegar a resultados próximos.

No caso do estudo incorreto das vacinas, nenhum outro pesquisador chegou aos mesmos resultados que sugeriam danos graves. Evidentemente, algumas vacinas podem causar algumas reações, mas seus benefícios são muito maiores, pois evitam que milhões de pessoas adoeçam.

Ainda assim, parece que tem gente que não quer entender que vacinas salvam vidas. Muito conteúdo falso rodando pelas redes sociais apresenta as histórias mais absurdas, sem um fiapo de prova. Especialistas e verificadores de fato já provaram que essas teorias da conspiração são falsas, mas mesmo as mais malucas ainda parecem conquistar alguns adeptos.

Especialistas do Ministério da Saúde consideram que a proliferação de notícias falsas podem ser um dos fatores para a recente queda na cobertura de vacinação contra doenças que pareciam estar sob controle, como poliomielite e hepatite. Se a vacinação não atingir uma parcela mínima da população, essas doenças podem voltar a circular com explosão de casos e fazer muito estrago, pois podem contaminar quem não se protegeu previamente.

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Quando as primeiras vacinas contra o novo coronavírus ainda estavam nos testes iniciais, já começaram a se multiplicar boatos e invenções malucas questionando seus efeitos. Estudo da União Pró-Vacina (UPVacina), da USP Ribeirão Preto, identificou que informações falsas ou distorcidas sobre essas novas vacinas cresceram quase cinco vezes entre maio e julho de 2020 nas redes sociais brasileiras.

Pesquisa internacional da Avaaz indica que páginas com informações falsas sobre a saúde atingiram 3,8 bilhões de visualizações em cinco países durante um ano – e dez desses maiores sites conseguem alcançar mais usuários em redes sociais do que instituições oficiais de saúde. Ou seja, a informação incorreta está sendo mais propagada do que os dados e recomendações com embasamento científico.

Mesmo as recomendações mais simples (como o uso de máscaras de proteção, a necessidade de higienização e a recomendação para manter distanciamento físico, evitando aglomerações) parecem ter perdido espaço na confusão de informações falsas que circularam nos últimos meses. Verificadores de fatos já checaram centenas de boatos que circulavam em volume cada vez maior pelas redes sociais, mas a onda de desinformação parece não estar próxima do fim.

Justo na hora em que era necessário ter mais cautela para evitar o contágio da doença, muita gente parece ter entrado em pânico e saiu por aí espalhando qualquer bobagem que encontrava online – ou ignorou todos os alertas e minimizou a ameaça, sem tomar os cuidados mais básicos. O resultado nós encontramos nos milhões de contaminados e nas centenas de milhares de mortos em países como o nosso, que ignorou de forma generalizada as recomendações sanitárias mais elementares. Na luta pela preservação das vidas, a ignorância ganhou os primeiros rounds.

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Não adianta tentar ignorar a situação em que nos encontramos. Mas podemos tentar sair desse buraco que ajudamos a cavar. Em primeiro lugar, não podemos mais desprezar as recomendações das autoridades médicas e especialistas da área. É importante acompanhar a Organização Pan-Americana da Saúde e a Organização Mundial da Saúde (OMS), que apresentam recomendações básicas, com informações atualizadas e embasadas em pesquisas científicas.

Nessa epidemia de fake news sobre a saúde, continuam valendo todas as recomendações que já indicamos neste curso para verificar informações online. Vale conferir o que agências de checagem de fatos como Lupa têm publicado sobre a pandemia – elas podem ser consultadas na hora em que você encontrar algo duvidoso por aí. O Ministério da Saúde também tem uma página especial chamada “Saúde Sem Fake”, que recebe conteúdos duvidosos e publica correções ou confirmações a partir de consulta com especialistas do ministério.

Não adianta entrar em pânico e acreditar em tudo que você ouve por aí, mas também não se pode fingir que o problema não existe: ambas as condutas podem trazer consequências graves. Com cautela, seguindo as recomendações sanitárias, precisamos assumir nossas responsabilidades e cuidar da nossa saúde e das vidas das pessoas ao nosso redor.

Caramba… foi bem mals
Caramba… foi razoável
Caramba… foi muito bem

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@2018 Vaza, Falsiane