4. A caixa preta do WhatsApp

Você sabe qual é a relação entre notícias falsas e o aplicativo de troca de mensagens mais popular do mundo? Falaremos sobre isso agora. Entenda como as conversas em grupos mudaram a função do serviço e como os políticos estão construindo um império invisível com conteúdo questionável, e pior, com potencial de viralização. Contra-ataque com o comportamento exemplar no WhatsApp e uma ferramenta para detectar mentiras. Por fim, teste seus conhecimentos.

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O popular “Zap Zap” desbancou as ligações telefônicas e o SMS, tornando-se uma das principais formas de comunicação interpessoal (de um para um) e grupal (de muitos para muitos) no mundo.

Isso abre um mundo de possibilidades — e, como vamos ver, um universo de riscos! Diversas características da plataforma a tornam um terreno fértil para a disseminação de notícias falsas.

Você se lembra do que aconteceu nas eleições de 2018? Houve uma grande manipulação das intenções de voto potencializado pela viralização em aplicativos de mensagens como o WhatsApp. Esses momentos são tão complicados para o universo das fake news que a gente reservou um capítulo só para o processo eleitoral. Mas os problemas no WhatsApp, hoje, não se restringem ao calendário político: a natureza quase secreta do aplicativo é um convite à desinformação.

Para esquentar os motores, vamos testar se você está por dentro da história e do tamanho dessa encrenca? Responda esse quiz!

Quando o WhatsApp foi criado?

Correto!

Errado!

O serviço mensageiro que permite o envio de mensagens, fotos, áudio e vídeo por smartphones foi criado em 2009. Hoje, ele ostenta a liderança no mercado de mensageiros instantâneos, superando rivais como Facebook Messenger, WeChat, Skype, Snapchat e Viber.
Quantos usuários de WhatsApp existem no mundo?

Correto!

Errado!

O número equivale a um quarto da população mundial. Por dia, são trocadas cerca de 65 bilhões de mensagens.
O Brasil tem quantos usuários do aplicativo?

Correto!

Errado!

Aproximadamente 57% da população do país. Somos o 2º maior mercado do mundo em número de usuários de WhatsApp, perdendo apenas para a Índia (375 milhões).
Em 2014, o WhatsApp foi comprado pelo Facebook. Por quanto ele foi vendido?

Correto!

Errado!

Foi o maior valor pago pela rede social para comprar um aplicativo (em 2012, o Facebook já havia adquirido o Instagram por “apenas” 1 bilhão de dólares). O valor astronômico se justifica pelo crescimento no número de usuários: a cada mês, cerca de 1 milhão de pessoas instalam o WhatsApp.
Quantas pessoas cabem num grupo de WhatsApp?

Correto!

Errado!

O número de usuários por grupo cresceu para 256 em 2016 (antes disso, o máximo era de 100 pessoas). Aplicativos semelhantes como o Telegram têm grupos bem maiores, chegando a 200 mil membros. Os grupos de WhatsApp serão assunto central nos nossos próximos capítulos.
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O WhatsApp nasceu para ser um “mensageiro instantâneo”. Isso significa que ele foi projetado para concorrer com os antigos “torpedos” — ou SMS (Short Message Service ou “serviço de mensagens curtas”), focados na troca de mensagens de um usuário para o outro.

A própria empresa diz que esse uso ainda é o mais comum. Segundo o WhatsApp, 90% das mensagens enviadas pelo aplicativo são de uma pessoa para outra.

Aparentemente, tudo tranquilo: esses 90% de mensagens parecem ter encontrado no WhatsApp um substituto mais barato e prático para as chamadas telefônicas e as mensagens de texto.

Só que os 10% restantes podem ter o potencial de causar uma grande confusão e tudo começou a mudar em fevereiro de 2011, quando surgiu a funcionalidade de conversas em grupos.

Você conhece um pouco da história: nem sempre o clima de paz e harmonia impera nos grupos do Zap. Tem sempre aquele tio provocador, aquela mãe que envia correntes e alguém que se sente ofendido e pronto! Sai do grupo, rompe amizade, corta relações. Não precisava ser assim, mas é como as coisas têm sido em sociedades polarizadas como o Brasil de hoje.

“Ué”, você pode estar pensando. “Mas esses problemas não existem também em outras redes sociais?” Sim, existem. Mas no WhatsApp a situação é mais complicada por causa de um palavrão que está na moda: criptografia.

A criptografia é uma técnica para codificar ou embaralhar mensagens. No WhatsApp, o sistema usado é a “criptografia de ponta-a-ponta”: a mensagem enviada é codificada na origem (no aparelho do usuário que escreveu) e só é decodificada no destino (no aparelho de quem recebe).

No WhatsApp, a criptografia de ponta a ponta começou a ser implementada em 2014. Em 2016, os smartphones de todos os sistemas operacionais já contavam com o serviço.

A criptografia é um mecanismo de privacidade, pois evita que alguém — provedores de internet, companhias telefônicas ou donos de software — possam saber o que duas pessoas estão teclando ou falando.

O problema é que, com a criptografia, fica impossível saber que tipo de dado está circulando pelo aplicativo. E o que é bom para a privacidade pode ser ruim para a qualidade da informação. Como não há ninguém fazendo a regulação do que se publica, é possível que haja até mesmo comunicação criminosa: conteúdo de cunho racista, xenófobo ou de pedofilia, por exemplo.

E, como você deve estar imaginando, a criptografia escancara a porta do WhatsApp para a disseminação de notícias falsas e desinformação. Tudo isso piora quando os grupos estão interligados — sim, isso acontece! Daí o que era para ser um simples serviço de troca de mensagens pode se transformar em um meio de comunicação de massa sem qualquer controle.

Pode-se falar em um verdadeiro “império invisível” da desinformação, como você vai ver a seguir.

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Imagine a seguinte experiência: você participa de um único grupo de WhatsApp com apoiadores do presidente Jair Bolsonaro. Durante 10 dias, você aceita todos os convites que te enviarem pelo aplicativo para participar de outros grupos semelhantes. Ao final desse período, você tem ideia de em quantos grupos estará?

Nós fizemos essa experiência e temos a resposta: 31 grupos!

Os resultados, publicados em um artigo científico escrito por Rodrigo Ratier, professor da Faculdade Cásper Líbero (e também um dos fundadores do Vaza, Falsiane!), mostram como funcionam os chamados “grupos partidarizados” no WhatsApp.

Muitos desses grupos são públicos, o que significa que seus administradores disponibilizam um link como convite para quem quiser participar. Como vários administradores de grupos semelhantes fazem a mesma coisa, o resultado é que, ao entrar em um grupo, você pode participar de muitos outros se decidir aceitar o convite.

Os convites — que são muitos por dia, e que dão acesso a vários grupos diferentes — interligam os grupos em uma rede, como no esquema abaixo, desenhado no artigo de Ratier, em que cada bolinha é um grupo e cada fio é um convite de acesso.

Crédito: Rodrigo Ratier/Software Pajek

A seguir, damos uma ideia do tamanho dessa rede — é bom lembrar, montada em pouquíssimo tempo (apenas 10 dias de experiência):

  • ● Cada grupo tem, em média, 141 integrantes, um número bem maior do que a média de participantes por grupo (apenas seis pessoas, segundo o WhatsApp).
  • ● Há pessoas que participam de até 14 grupos. A maioria (80%), porém, está em apenas um. Os 20% restantes estão em dois ou mais.
  • ● Descontados os usuários em dois grupos ou mais, temos mais de 3.200 pessoas na rede.
  • ● Em dez dias, foram trocadas mais de 63 mil mensagens, uma média de 236 por grupo a cada dia (no grupo mais ativo, a média foi de 1.128 mensagens). Ou seja, uma quantidade difícil de acompanhar.

Alguns números chegam a impressionar, não é mesmo? Porém, há ainda mais. O que as pesquisa que trabalham com grupos políticos no WhatsApp sugerem é que cada uma delas visualiza apenas a pontinha de um iceberg. Lembre-se de que, como a rede é criptografada (protegida por código), não é possível saber quantos grupos de política existem no Brasil ou no mundo…

A hipótese mais aceita hoje é que se trata de um verdadeiro “império invisível”. Pode-se pensar em uma estrutura de centenas de milhares de grupos interligados. Ou seja, teriam o mesmo funcionamento de um meio de comunicação de massa, como uma emissora de rádio ou TV, mas com uma diferença enorme: se um site, TV ou rádio divulga informações falsas, calúnias, acusações levianas, montagens etc., precisa corrigir seu erro o quanto antes.

Mesmo assim, estará sujeita a punições previstas em lei, que vão de multa até prisão dos responsáveis pela publicação. Em caso de concessões públicas, como TVs abertas e rádios AM e FM, as emissoras podem até sair do ar para sempre!

No WhatsApp, você já percebeu: pelo caráter quase secreto das conversas do aplicativo, é como essa emissora de TV, além de invisível, tivesse uma programação totalmente sem controle e regulação, sujeita a todo tipo de desinformação.

E isso realmente está acontecendo.

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ShutterStock

Como vimos, as características do WhatsApp tornam o aplicativo uma rede quase secreta. Isso dificulta saber detalhes sobre a qualidade do conteúdo que circula pelos celulares. Apesar disso, pesquisas que monitoram os chamados grupos públicos conseguem dar algumas pistas.

O assunto de boa parte desses grupos é política. Em geral, as pessoas se reúnem para defender pontos de vista, partidos, candidatos ou políticos eleitos. O que rola por lá? Faça o teste – e veja o que os estudos descobrira:

Grupos políticos só existem em época de eleição.

Correto!

Errado!

Estudos como o de Rodrigo Ratier, da Faculdade Cásper Líbero, mostram que grupos que defendem determinados políticos seguem sendo criados mesmo depois das eleições. Analisando grupos de apoio a Jair Bolsonaro, o pesquisador identificou novos grupos criados e em atividade em agosto de 2019 – ou seja, 10 meses depois das eleições de 2018.
Nos grupos políticos, as fontes de informação apresentam noticiário equilibrado e buscam a objetividade.

Correto!

Errado!

A pesquisa do departamento de ciência da computação da Universidade de Northwestern, nos Estados Unidos (veja esta e outras referências de estudo do item 9.9) aponta que a maior parte dos conteúdos compartilhados é de mídia hiperpartidarizada – sites, perfis de rede e canais do Youtube que defendem abertamente, e muitas vezes agressivamente, um candidato ou partido – e de fake news – sites dedicados a espalhar informações falsas ou distorcidas.
Os robôs são a maioria dos usuários de grupos políticos.

Correto!

Errado!

Os indícios das pesquisas de Rodrigo Ratier, da Faculdade Cásper Líbero, e da Universidade de Northwestern mostram que os grupos políticos têm uma quantidade desproporcional de números estrangeiros. Isso seria um possível sinal da presença de robôs. Ainda assim, números de outros países não passam de 3% do total (dados da pesquisa de Ratier). Há uma grande militância de carne e osso engajada, cuidando dos grupos, da disseminação de conteúdo, da criação de novos grupos e do fortalecimento da rede entre eles.
Depois das eleições, os grupos políticos baixaram o tom e ficaram menos agressivos.

Correto!

Errado!

Pelo menos entre os grupos à direita, aparentemente ocorreu o contrário: a radicalização aumentou. David Nemer, professor de estudos de mídia na Universidade da Virginia, nos Estados Unidos, monitora grupos de apoio a Jair Bolsonaro desde 2018. Na gestão do novo presidente, ele observa que parte dos grupos segue o apoiando e parte agora o critica, pedindo coisas como intervenção militar, fechamento do congresso ou defendendo pautas abertamente racistas e preconceituosas.
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Chegou aquela mensagem para lá de esquisita, cheia de pistas que apontam para uma notícia falsa. Mesmo assim, a mão de muita gente coça para repassar a história para a frente.

Por que isso acontece? O professor Pasquale Cipro Neto abre a caixa preta do WhatsApp para falar de três processos que ocorrem quando a gente está usando o aplicativo: intimidade, identificação e anonimato.

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Você é um “encaminhador em série”, daqueles que recebe uma mensagem e já passa adiante logo sem ler? Não consegue se desligar do Zap nem por um segundo? Tem o aplicativo como única fonte de informação?

A esta altura, você já deve ter percebido que podemos melhorar! A questão é: como? Vamos descobrir juntos?

Para chegar lá, queremos trazer duas referências de pesquisa.

1. A primeira é um conceito criado pelo futurista Alvin Tofler: prosumer, ou em português, prossumidor. Esse palavrão é uma mistura de dois termos: produtor + consumidor. Ele é importante pois indica a situação em que todos nos encontramos na atualidade. Quando nos relacionamos com as mídias, não somos mais meros consumidores (aqueles que recebem as mensagens, muitas vezes passivamente). Hoje, a tecnologia permite que sejamos, também, produtores: respondemos aos conteúdos com comentários, sugestões e críticas, passamos informação adiante (muitas vezes, com nossa opinião sobre ela) e produzimos nosso próprio conteúdo (textões no Facebook, stories no Instagram, vídeos no YouTube e por aí vai).

2. A segunda referência são os estudos do pesquisador venezuelano José Martinez de Toda. Em linha com o que pensa Alvin Tofler, Martinez de Toda vai também concordar que cada um não apenas recebe informações, mas também as produz. Em suas pesquisas, ele relaciona essas características à dimensão da produção e da recepção da informação. Avançando, Martinez de Toda vai dizer que, para sermos sujeitos competentes em relação à comunicação, devemos trabalhar essas duas dimensões. Nesse sentido, ele propõe que se trabalhe seis características: conhecedor, maduro, crítico (na dimensão da recepção, como diz Toda e Terrero, ou do consumidor, como diz Tofler) e ativo, social e criativo (na dimensão da produção para os dois autores).Vamos definir cada uma dessas características e ver como elas funcionam na prática? Faça o teste a seguir:

O que fazer para melhorar seus conhecimentos sobre a qualidade da informação que você recebe no WhatsApp?

Correto!

Errado!

Não estamos acostumados a refletir sobre a informação que recebemos e os interesses que podem estar por trás dela. Por isso, é importante ser um sujeito conhecedor da mídia. Em alguns casos, é preciso, sim, estudar! Você pode buscar programas de educação para a mídia ou educação midiática. O capítulo 7 de nosso curso – em especial o item 7.5 – traz indicações de sites que podem interessar.
Como não ficar viciado no WhatsApp?

Correto!

Errado!

Resposta "a" Correta: Se você está o tempo todo no Zap, provavelmente você está deixando algo de lado. Um sujeito maduro em relação à mídia sabe gerenciar seus impulsos e tem uma relação equilibrada com as redes sociais, sabendo ligar e desligar na hora certa. Para começar, estabelecer horários ou dias de uso pode ser uma boa alternativa para usar com moderação.
Se um parente muito próximo e querido me manda uma notícia pelo WhatsApp, eu…

Correto!

Errado!

O WhatsApp tem essa armadilha da afetividade, mas não é porque a informação chegou de alguém querido que a notícia é, necessariamente, verdade. O sujeito crítico em relação à mídia sabe que a notícia pode ter interesses por trás. Por isso, cruza as diferentes fontes de informação antes de tomar uma atitude – como, por exemplo, encaminhar uma mensagem.
Imagine que você é administrador de um grupo de WhatsApp em que as discussões começam a ficar pesadas. Você?

Correto!

Errado!

Na educação costuma-se dizer: “aprende-se basicamente pelo exemplo”. Diante de um problema no grupo, você pode se omitir ou eliminar a questão, mas será que isso fará o grupo evoluir suas formas de comunicar? O sujeito social em relação à mídia tem a preocupação de levar debates para espaços coletivos, acolhendo as dúvidas e acreditando que todos podem aprender.
Em relação aos conteúdos que você produz ou compartilha pelo WhatsApp:

Correto!

Errado!

Um olhar generoso para a comunicação significa reconhecer que todos podem e tem condições de produzir seus próprios conteúdos. O sujeito ativo da comunicação recebe os conteúdos da mídia, faz sua interpretação e cria novos conteúdos para as redes em que está inserido. Tanto melhor quando isso é feito com uma postura aberta ao aprendizado – ou seja, considerando os que pensam diferente e tentando aprender com eles.
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“INCRÍVEL! Multidões marcham para depor o presidente!”

“Veja a crueldade com os professores agredidos na manifestação”

“Queimadas? Confira fotos da floresta amazônica intacta onde dizem que há fogo!”

Uma das maiores dificuldades no WhatsApp é saber se a foto que você recebeu é verdadeira ou não. Diferentemente do que ocorre em sites jornalísticos ou mesmo em outras redes sociais, as imagens no Zap não possuem crédito ou outras informações importantes, como a data em que foram produzidas. Para piorar, às vezes elas vêm acompanhadas de textos bombásticos, como os que você vê aí nos parágrafos de cima.

Novamente, o conselho de ouro é: olho vivo.

Primeiro, porque a imagem que você recebeu pode ser uma montagem — e com as técnicas cada vez mais refinadas das chamadas deep fakes, está cada vez mais difícil distinguir as fraudes. Segundo, porque ela pode até ser verdadeira, mas tirada de contexto: uma imagem antiga se passando por atual, um recorte malicioso de uma cena mais ampla. Enfim, estratégias que também estão a serviço da desinformação.

Felizmente, dá para identificar boa parte das enganações usando uma estratégia chamada busca reversa de imagens. Já ouviu falar?

A busca reversa é como se fosse um detetive virtual seguindo os passos que a imagem foi deixando desde que apareceu pela primeira vez na internet. Com essa estratégia de pesquisa, você consegue obter o histórico da imagem que recebeu e compará-las com outras semelhantes.

Às vezes, dá para saber direitinho qual é a origem. Em outras, é possível ter uma ideia do contexto original.

No computador, a forma mais simples de fazer busca reversa é pelo Google Imagens. No campo de busca, clique no ícone da máquina fotográfica. Assim:

Em seguida, escolha uma forma de subir a imagem no campo de busca. Um jeito simples é salvar no computador a foto que você recebeu e, depois, mandá-la pela opção “envie uma imagem”:

O que o Google retorna é uma página de resultados de busca com as principais informações sobre a imagem.

Vamos para um exemplo prático? No começo de 2019, circulou pelo WhatsApp a imagem de um outdoor digital — supostamente na Times Square, na cidade de Nova Iorque — com as fotos dos presidentes do Brasil e dos Estados Unidos, junto com a hashtag #Bolsotrump. Será que é real?

Salvamos a foto e acionamos a busca reversa no Google Imagens. A página de resultados foi bem reveladora.

No campo “imagens visualmente semelhantes”, aparece uma foto no mesmo enquadramento. Até aí, pode ser uma coincidência. Mas o fato de as mesmas pessoas estarem na cena aponta para a montagem:

Em seguida, os resultados de busca confirmam a suspeita: pelo menos três serviços de checagem de fatos alertam para o fato de que se trata, efetivamente, de uma montagem.

O site Aos Fatos recupera a história com detalhes:

“Duas imagens do encontro entre os presidentes foram colocadas em uma ferramenta on-line chamada Photofunia, que faz, automaticamente, uma inserção de fotos naquele outdoor”.

“Além disso, a foto não mostra a Times Square, famoso cruzamento da cidade de Nova Iorque, mas sim o Central Building de Hong Kong. A imagem original é da empresa POAD Smarter Outdoors, que trabalha com publicidade em Hong Kong, Singapura e Macau.”

Para finalizar, vale dizer que a busca reversa só está disponível na versão do Google Imagens para desktop (computador). Se você quiser fazer o procedimento no celular, há diversos aplicativos disponíveis. É só clicar no ícone da App Store (para IPhone) ou Play Store (para aparelhos Android) e digitar “pesquisa por imagens” ou “reverse image search”.

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Crédito: Gustavo Molina/Freeimages

A primeira dica para evitar vazamentos é a mais óbvia de todas: se você não quer que uma determinada informação vaze de suas redes sociais… não publique essa informação em suas redes sociais!

É igual compartilhar um segredo: você deixa de ter controle sobre aquela informação e passa a depender da lealdade de seu confidente. Quando a pessoa resolve passar a informação adiante, a confusão está armada: textos, áudios e fotos podem ser usados para intimidar, humilhar ou mesmo chantagear quem os enviou.

Portanto, todo cuidado é pouco. Se você quer um passo a passo prático de segurança na rede, vale conferir o site da Safernet, ONG que defende os direitos humanos na internet.

Mas há outros problemas. Muita gente pensa que os dados pessoais na internet são privados e estão protegidos. Não é bem assim. Sabe aqueles “ termos e condições de uso” que todo mundo aceita ao fazer seu cadastro numa rede social? Pois é: quase ninguém lê, mas geralmente esses contratos trazem alertas a respeito do uso das suas informações — tanto de seus dados pessoais quanto das informações que você publica. Em geral, as empresas donas das redes têm mais autorização sobre nossos dados do que imaginamos.

Por exemplo: é possível que, concordando com os termos e condições de uma determinada rede, o usuário autorize a escuta de trechos de suas conversas de áudio. As empresas dizem que esse tipo de monitoramento ajuda a aprimorar os serviços de reconhecimento de voz, que funcionam por inteligência artificial.

Pode ser. Mas há diversos casos de vazamento de dados para outras finalidades, como fins políticos — por exemplo, o envio de mensagens não autorizadas sobre um candidato que parece se encaixar no seu perfil.

Por fim, há quem queira roubar dados para levar algum tipo de vantagem, seja ela econômica ou política. Esse tipo de ação geralmente é descrito como “hackeamento”. Mas, na verdade, boa parte dos crimes cibernéticos ocorre por descuido do usuário. A boa notícia é que, com um pouco de atenção, a gente pode se defender melhor.

Para ficar no exemplo do WhatsApp, que é o foco deste módulo. Você já ouviu falar na verificação em duas etapas? É um recurso extra de segurança: quem quiser acessar sua conta precisará, além dos dados de login, de uma segunda informação: o PIN, um código de seis dígitos que você determina.

É bem simples inserir essa verificação: com o aplicativo aberto em seu celular, clique em ajustes ou configurações (dependendo do aparelho). Depois: Conta > Verificação em duas etapas > Ativar. Você escolhe um PIN de 6 dígitos e pronto.

O vídeo abaixo ilustra o processo:

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